12 fevereiro, 2015

Lembram-se da dívida da Madeira? Ou quando a Esquerda reclamava austeridade para aqueles que acumularam dívida…


Já não suporto a ladainha – autêntica cópia da postura do BE sobre o tema - e a chantagem emocional usadas pelo jornalismo tipo TSF sobre a situação da Grécia (uns querem a condenação dos gregos contra "os outros", que os querem salvar).


A contínua repetição na agenda mediática da ideia de vitimização dos gregos, que a pobreza e miséria que sobre eles recaiu se deve aos “grunhos” dos alemães e de todos os que defendem a austeridade. Em suma, estou farto que me façam sentir um pulha só porque penso que a miséria que se abateu sobre a Grécia é, essencialmente, consequência do que andaram a fazer durante décadas e que o perdão da dívida não servirá para nada…


Solução para a dívida da Grécia Vs Solução para dívida da Madeira

Basta recuar ao final de 2011 e ao célebre “buraco” da dívida da Madeira, para constatar a coerência desta malta. Como facilmente se constata numa busca no Google, a coerência das posições de BE, PCP e PS, sobre dívida e austeridade, são desconcertantes…


A dívida da Grécia, dizem, é injusta e imoral. É essencialmente fruto das políticas europeias, designadamente, do próprio programa de ajustamento imposto à Grécia. Logo, existem razões plausíveis para não pagar. Os gregos são as vítimas desta estória.

E qual foi a posição desta malta relativamente à dívida da Madeira?... Basta analisar, em finais de 2011, os termos usados por Louçã para se referir ao assunto:

 “… é preciso que se faça uma auditoria às contas da região “para proteger a Madeira e todos os contribuintes no país inteiro que têm sido obrigados a pagar este descalabro das contas e este facilitismo das contas de Alberto João Jardim, que é o primeiro e único responsável pelo buraco financeiro da Madeira”…”


Note, a dívida é da exclusiva responsabilidade do “descalabro” e do “facilitismo” dos que governaram a Madeira. Não existiu contributo das políticas nacionais ou europeias, para esse desfecho.



Quando se fala da Grécia, está sempre presente uma ideia de obrigação moral dos seus parceiros europeus, perdoando as dívidas, “salvar” os gregos. No caso da Madeira, o tom usado era “ligeiramente” diferente… voltemos a Louçã:

“... “Desconfiamos que no dia em que Pedro Passos Coelho vier fazer um comício ao lado de Alberto João Jardim, por cada minuto do discurso, nós todos vamos pagar 30 milhões de euros, até chegar aos 500 milhões do cheque que ele vai passar a Jardim

Em vez de apelos à solidariedade com a Madeira, a “esquerda” alertava para a circunstância de estar em curso o pagamento do “descalabro” madeirense "à custa de nós todos”



Na Grécia, a austeridade é a culpada da situação económica grega e tem que ter um ponto final. No caso da Madeira, pressionava-se o governo de Passos para aplicar o respetivo plano de austeridade! E, era implícito, esse plano de austeridade tinha de assegurar que seria a Madeira – e não os contribuintes de todo o país – a pagar a crise


“O líder do Bloco de Esquerda, Francisco Louçã, confrontou o primeiro-ministro com o compromisso assumido pelo Governo no anterior debate sobre a Madeira, no qual Passos Coelho se referiu ao plano de austeridade para resolver a dívida do arquipélago.
 
[…] Na intervenção de hoje, o primeiro-ministro garantiu que será "prioritariamente" a região autónoma a fazer "o esforço de correção" orçamental e financeiro e não o país na sua globalidade.”

Só para demonstrar que a posição do PS era (então como agora...) sensivelmente a mesma do BE…

Seguro desafia Passos Coelho a esclarecer quem paga "irresponsabilidade" da dívida da Madeira

Referindo que a dívida da Madeira é de oito mil milhões de euros, António José Seguro disse que "os bebés daqui [região autónoma] já nascem endividados".



A coerência desta gente em termos de doutrina sobre dívida e austeridade, fica bem patente…

Que moral, têm aqueles que acusam os alemães de falta de solidariedade com os gregos, quando a posição que adotaram em relação à resolução dos problemas da dívida dos seus próprios compatriotas, foi a que se vê nos excertos acima?


Para finalizar, notar que o tratamento mediático destes dois casos – o da Madeira e o da Grécia – é também exemplar num outro plano: a sistemática colagem dos meios de comunicação social, às posições políticas de circunstância da esquerda.
 

 

Sem comentários:

Enviar um comentário

...