10 dezembro, 2014

Caso BES - Quando todos são responsáveis, ninguém é responsável…


Assistindo, ontem, ao depoimento de José Maria Ricciardi na comissão de inquérito, qualquer “cego” consegue perceber o que se passou no BES e quem foi o vilão deste filme.

O que é extraordinário, é observar a postura do PS na mesma comissão onde – em vez de estar empenhado em escrutinar os factos na origem da derrocada do GES – parece mais interessado em “cavar” responsabilidades a diversas entidades, designadamente, Banco de Portugal e o seu Governador, o Ministério das Finanças e a Ministra, e, por arrasto, o PM.

Se esta comissão de inquérito fosse sobre um gatuno que tivesse assaltado uma casa, os deputados do PS, provavelmente, estariam empenhados em demonstrar que o empreiteiro falhou ao não ter instalado duas em vez de uma fechadura e, não menos importante, a apurar porque razões não estava um agente da PSP junto da janela na altura em que o dito gatuno lá entrou…


Esta estratégia socialista (como habitualmente) tem na comunicação social fortes aliados e, com frequência, na agenda mediática lá vão saindo notícias alinhadas com uma narrativa que visa, perante a opinião pública, diluir responsabilidades (atirar lama, se preferir...) pelos actos que ditaram o colapso do grupo Espírito Santo. Eis alguns casos:

“…muitos clientes foram convencidos a investir capital no BES - dinheiro que perderam pouco depois - por causa de declarações de Cavaco Silva que garantira a estabilidade e a segurança das contas e das operações financeiras daquele banco.”

 
“Passos, Maria Luís, Costa e Cavaco: todos garantiram que não havia custos para contribuintes com resgate do BES”
 
“Novo Banco: «CGD pode perder», os contribuintes também. É a primeira vez que o Governo admite eventuais prejuízos que, no limite, serão prejuízos para os contribuintes”


Caro leitor, a quem serve esta narrativa?
Enfim, parece óbvio que os “Donos Disto Tudo” ainda controlam algumas peças importantes no tabuleiro…

Ainda sobre a gestão mediática do assunto, achei curioso o critério editorial da TSF esta manhã. Depois de um dia bastante clarificador sobre as dúvidas que (ainda) pairavam sobre os actos que estiveram na base da derrocada do GES, sintonizei a TSF esta manhã para ouvir as últimas do caso. No entanto, nada ouvi sobre as declarações ontem proferidas no inquérito parlamentar. Um caso que "fez correr tanta tinta" nos últimos meses não teve qualquer atenção
 
Em vez disso optou por chamar à abertura dos seus noticiários, reproduzindo a declaração de um sindicalista, o alegado “desconforto dos inspectores tributários envolvidos na Operação Marquês” e os seus receios por “…no limite, a investigação poder ser contestada porque os inspectores das finanças não têm o chamado vínculo de nomeação ao Estado”.

Receios, logo desfeitos em 5 segundos por um advogado. Mesmo assim, a TSF lá continuou a difundir - ouvi eu - às 9.00h, 9.30h, 10.00h…  o tal “desconforto” e a ideia de que a detenção de Sócrates pode não ter observado um qualquer pormenor administrativo…

O caso BES, hoje, foi remetido para o Fórum TSF, onde se pretendia auscultar a “opinião dos ouvintes” nestes termos...


"Como avalia a forma como estão a decorrer os trabalhos da comissão parlamentar de inquérito ao BES e ao Grupo Espírito Santo? Que importância atribui a esta comissão? Estão reunidas as condições para se perceber o que falhou no BES? Sairemos deste processo mais bem preparados para evitar novas fraudes bancárias?" 

Não tive oportunidade de ouvir o que "pensam os portugueses", mas todos sabemos que os portugueses têm em alta consideração as comissões de inquérito…


Quando todos são responsáveis, ninguém é responsável…

Socialistas e comunicação social têm uma agenda comum: tal como tem acontecido com os recentes processos judiciais - onde se tenta evitar passar para a opinião pública a ideia de este governo estar a contribuir para um combate sério à corrupção -, o actual governo também não pode “ficar com os louros” de ter agido corretamente no caso BES e optado – o que não sucedeu com o caso BPN – por uma solução que permitiu proteger os contribuintes em vez de proteger os “poderosos”.


Essa conclusão não pode ser tirada!


Como sucedeu em outras ocasiões, depois do dia de ontem, onde ficou claro ser demasiado forçada a tese de atribuição de responsabilidades pelo sucedido com o GES ao Banco de Portugal e, por arrasto, ao actual Governo, suspeito que o caso vai rapidamente sair dos holofotes da comunicação social. 

Outros assuntos e novas polémicas que sirvam de arma de arremesso a Passos e terão de ser desenterradas. A questão é, o que aí virá?...