22 janeiro, 2013

A Esquerda deve ser inimputável…


Este argumento do "Há mais de um ano que eu disse que havia outro caminho" ou “"O PS teve razão no tempo certo", diz Seguro”, são exemplares do chico-espertismo à portuguesa…
Da memória curta...
Vejamos: os Srs. do partido que se diz socialista, levaram o País à bancarrota, chamaram o FMI e, em Maio de 2011, assinam um memorando que seria sempre uma “bomba social". Fosse PS fosse PSD/CDS a governar, bastava ler os montantes dos cortes previstos para 2012 e 2013 para tirar essa conclusão (mas ler este tipo de documentos é coisa que muitos jornalistas não gostam de fazer, são demasiados números…).
Apenas 6 (Seis) meses depois de abandonar o poder, no início de 2012, um extraterrestre que visitasse este belo País e ouvisse qualquer socialista a falar “contra a austeridade do custe o que custar”, da necessidade de “renegociar a dívida”, que “o meu caminho é outro, o do crescimento económico”, etc., só poderia concluir que esses Srs. nada teriam a ver com o que se passava em Portugal …
O que não deixa de ser estranho é que, mesmo entre o cidadão comum luso, muitos aparentam não saber que o PS governou, quase ininterruptamente, entre 1995 e 2011 (com apenas 2,5 anos de intervalo de Barroso / S. Lopes). O que faz de muitos portugueses verdadeiros “extraterrestres” na sua própria terra!
Claro que esta percepção não poderia existir sem a indispensável colaboração deste jornalismo militante. Por exemplo, faz sentido atribuir, a PS e a PSD - como muitas vezes se vê no espaço mediático - responsabilidades iguais relativamente à governação dos últimos 20 anos, quando os socialistas governaram mais de 80% do tempo?!
São contra a austeridade e pelo crescimento económico, como se alguém fosse contra… Portugal investiu (na verdade gastou…) na última década como nenhum governo fez anteriormente e a economia não cresceu! De quantos anos precisaríamos para ver o milagre do crescimento anunciado pelos socialistas? Mais 5, 10, 20 anos?!
E o desemprego? Mesmo com dezenas de milhares de milhões de Euros, oriundos dos “maléficos” mercados, gastos a atapetar o País de auto-estradas (onde não passa ninguém) ou para plantar uma eólica em cada monte (o que fez a factura de electricidade duplicar), o desemprego continuou a subir. Em 2005 era de 7%, no final de 2011 era de 14%. Ainda assim vimos socialist…perdão! Comentadores, tentando explicar que a promessa dos 150.000 empregos até foi cumprida!...

Depois, os mercados que, ao contrário do que passa na comunicação social, tão bem se deram com os governos socialistas - começaram a desconfiar que Portugal poderia não pagar…
Chegou a factura, quem paga?...
Como alguns, esses sim vinham avisando - mas, durante uma década, foram ignorados pela "elite bem pensante" instalada na capital -, a fonte secou e, com ela, todo o modelo económico montado no consulado Sócrates.

Sem dinheiro para asfalto, betão, barragens, computadores Magalhães, ventoinhas, etc., o desemprego, inevitavelmente, acentuou a sua subida e, para além dos 4.000 M Euros/ano de despesa adicional para os contribuintes pagarem, ficamos ainda com maiores despesas sociais…

NOTA para “jornalista militante perceber”: a supressão dos subsídios de férias e Natal, por ex., “rende” ao Estado metade dessa verba, aproximadamente 2.000 M € (pergunto-me quantos jornalistas da praça não saberão isto… e se eles não sabem, como podem informar os cidadãos?!)

Em resumo, por muita indignação, gritaria e intoxicação, que jornais, telejornais e rádios, é preciso muita memória curta, demagogia e desonestidade, para ocultar que foi neste contexto que, há 1,5 anos, chegam Passos & Gaspar, ao governo…


Sobre renegociação do Memorando.
Há muito se percebeu que a estratégia do Governo incluía uma revisão das condições. Mas a estratégia do Governo, até aí sistematicamente colada à Grécia, recorde-se, passava por provar que era capaz de fazer os ajustamentos a que se comprometeu (ou tentar), permitindo-lhe assim ganhar a confiança e alguma autoridade moral, para negociar essas novas condições.


Dizer que Passos “mudou agora” - soundbyte que será repetido nos mídia nos próximos dias -, é portanto uma garotice, obviamente o 1º Ministro não podia andar a dizê-lo em público. Felizmente, até há provas disso: esta célebre conversa entre Vítor Gaspar e Wolfgang Schauble, ocorrida em Fevereiro de 2012.

Já esta frase: "Há mais de um ano que eu disse que havia outro caminho", essa sim, é fazer dos portugueses parvos e só demonstra a incompetência dos recentes e actuais, representantes do partido socialista. 

Então, o PS, que em meados de 2012, assina um documento – que denomina de bom para Portugal - onde se comprometia, quer através de cortes, quer através do aumento de impostos, com as metas de défice que este governo tem agora de cumprir - praticamente no dia seguinte – passou a defender que afinal, aquele documento, levaria Portugal à ruína?!… 
 
E os nossos jornalistas, fundamentais nas escolhas políticas que os portugueses tomam, colaboram com esta chico-espertice...


Dizer “O PS teve razão no tempo certo" é um grande acto de modéstia e humildade da parte de Seguro. Na verdade, num olhar atento aos últimos 20 anos neste País, facilmente se perceberá, que o PS tem razão “todo o tempo”!